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O Aterro do Flamengo, ou Parque Brigadeiro Eduardo Gomes, ou ainda Parque do Flamengo, na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro, é uma extensão de terreno de 1.200.000 metros quadrados, localizado na área central do Rio de Janeiro, cidade onde fica o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM, Rio). O Parque trata-se de uma obra modernista projetada a partir de 1961, sendo inaugurada simbolicamente em 1964 e reinaugurada oficialmente em 1965, como parte das comemorações do quarto centenário da cidade. Sua construção implica uma série de questões sociais relativas à fundação da cidade, à história da região e à mobilidade urbana necessária naquele momento. Foi criado pelo Grupo de Trabalho para a Urbanização do Aterro, o qual era presidido por Lota de Macedo Soares e chefiado pelo arquiteto e urbanista Affonso Reidy, este também responsável pelo projeto do MAM. O objetivo do grupo era criar um parque de caráter recreativo aberto principalmente a atividades educativas e lúdicas. O programa do Parque abarcava "ARTES (MAM), CIVISMO (Monumento aos Pracinhas), NATUREZA (Jardins, Pavilhão de Flores, Aquário, Aviário, Enseada, Praia), LITERATURA (Biblioteca), ESPORTES (Playgrounds, Campos de peladas, Quadras, Clubes Náuticos) e RECREAÇÃO (Brinquedoteca, Aldeota, Pavilhão Japonês, Coreto, Pista de Danças, Teatro de Fantoches e Marionetes, Pistas de Aeromodelismo, Tanque de Modelismo Naval, Área de Piquenique, Praia)". In GIRÃO, Claudia. Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, Brasil: o caso da marina – parte 1. Arquitextos. n. 135.01, ano 12, jul. 2011. Disponível em vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.135/4014

Importante anotar que o Aterro foi construído com o material do desmonte do Morro de Santo Antônio, parte de um ciclo de grandes intervenções no Rio de Janeiro realizadas ao longo do século XX e que visaram a expansão da cidade a partir da destruição dos morros e do deslocamento dos habitantes predominantemente de afro descendência das zonas centrais e sul para as periferias da cidade.

Mangueira, Portela e Salgueiro são nomes de escolas de samba tradicionais do Rio de Janeiro. É muito comum no contexto do samba, e principalmente das escolas, seus integrantes se identificarem, ou serem reconhecidos, pelo vínculo que mantém com suas comunidades, por isso, Nininha "da Mangueira", Bidu "da Portela" e Narcisa "do Salgueiro".

Os ovos, de Lygia Pape, consistem em estruturas cúbicas forradas com plástico ou papel colorido muito fino em que o participante entra por baixo do cubo, rompendo-o desde dentro. O cubo, assim, funciona como um ovo que, ao ser quebrado, revela a vida por vir. Em "O Objeto - Instâncias do problema do Objeto, "Hélio Oiticica (Revista GAM, no. 15, p. 26-27, 1968), ao refletir sobre o objeto na/de arte, defende a presença deste como um sinal e não como uma obra em si, ou seja, como parte de um todo mais complexo. Como tal, ele que já não representa mais a obra em si, senão que faz parte dela sendo absorvido e transformado no decorrer da experiência ambiental da qual faz parte. Isso se aproxima da ideia de Probjeto, conceito criado por Rogério Duarte para descrever proposições em aberto feitas por artistas. Os Ovos de Lygia Pape podem figurar muito bem nesta ideia, uma vez que vão além da noção de objeto para configurarem-se como um ambiente per se. Um ambiente que existe na medida em que alguém o ativa, ou seja, um ambiente que precisa da participação de alguém para poder acontecer. Há nesta experiência uma esfera de participação e outra de envolvimento, já que quem sai de dentro do ovo não apenas interage com ele como também lhe confere sentido a partir do modo como atua com (n)ele. Os ovos transformam a noção de dentro e fora e, por isso, foram tão importantes para Oiticica na concepção de Apocalipopótese.

Em 1964, Hélio Oiticica começou a frequentar a Estação Primeira de Mangueira, uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro, tornando-se um de seus passistas. Esta experiência consistiu num divisor de águas na obra e na vida do artista. A partir da convivência com a comunidade da Mangueira seu trabalho passou a incorporar questões sensoriais, como a música, o ritmo, a dança e o corpo – foi neste momento que surgiram os primeiros Parangolés. Para o artista, o interesse pela dança e pelo ritmo, em particular o samba, representavam uma necessidade vital de desintelectualização. Oiticica entendia a dança, mais especificamente o samba, como um "ato expressivo direto", em que há "uma imersão no ritmo, uma identificação vital completa do gesto, do ato com o ritmo, uma fluência onde o intelecto permanece como que obscurecido por uma força mítica interna, individual e coletiva [...] a dança, o ritmo, são o próprio ato plástico na sua crueza essencial – está aí apontada a direção da descoberta da imanência", defende o artista. A dança lhe revelou a ideia da criação pelo ato corporal, a contínua transformabilidade do corpo e sua relação com a expressão estética dos objetos, gerando uma imanência expressiva que se revela a partir de sua própria estrutura criando, assim, um lugar próprio no mundo, uma vez que desloca o espaço ambiental das relações óbvias já conhecidas, como reconhece o artista. Eis o Parangolé. Eis a chave para o que Hélio chamou mais tarde de "arte ambiental", algo móvel, transformável e que se estrutura pelo ato do espectador. In OITICICA, Hélio. A dança na minha experiência, 1965. Disponível em legacy.icnetworks.org/extranet/enciclopedia/ho/index.cfm?fuseaction=documentos&cod=477&tipo=2

Jorge Sirito e Paulo Martins (dir.) Arte pública (curta), 1967. O filme tem com foco acompanhar os artistas plásticas em seus ateliês e nos espaços públicos incluindo: Abraham Palatnik, Antonio Dias, Carlos Vergara, Glauco Rodrigues, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Lygia Clark, Pedro Escosteguy, Rubens Gerchman, Tomoshige Kusuno, Wesley Duke Lee, e também a 9ª Bienal de São Paulo. www.youtube.com/watch?v=tteMewMZn14

Wlademir Dias-Pino (1927-2018) foi um poeta, artista visual e artista gráfico brasileiro. Ao lado de Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Ronaldo Azevedo, Décio Pignatari e Ferreira Gullar, foi um dos seis poetas idealizadores do concretismo brasileiro e participantes da Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em dezembro de 1956. Antes disso, em 1948, fundou em Cuiabá o movimento Intensivista, que buscava intensificar a experiência da imagem poética através da sobreposição de palavras. Da junção destas duas experiências, e da ruptura com o primeiro, nasceu em 1962 o poema/processo, um movimento que tem em Dias-Pino um de seus principais articuladores, cujo objetivo era escapar do controle e da dependência da palavra como elemento constitutivo da poesia e do poema. De acordo com Wlademir (1971), "os poetas do movimento do Poema-Processo (livres do sofisticado do heroísmo) têm a consciência das dificuldades de ser vanguarda e mais do que isso, sabem que ao dissociar a Poesia (estrutura) do Poema (processo), separaram, definitivamente, o que é língua de linguagem dentro da literatura". O poema/processo recusa terminantemente a poesia em nome do poema e do processo, logo não está preocupado com a poesia e seu regime histórico e linguístico senão com a linguagem poética. Assim como Frederico Morais, com a concepção da Nova Crítica, Dias-Pino defendia "que a poesia visual exigiria uma crítica igualmente visual, e o poema de processo exigiria uma crítica de processo que simplesmente não existe". No poema/processo, o projeto é reutilizável, os leitores são convidados a dar-lhe continuidade projetando novos processos e, assim, novas leituras, gerando uma espécie de circularidade sistêmica em que criação e experiência se alternam na construção do processo de um poema, ou de um poema em constante processo. Ver FERNANDES, Thiago Grisolia. O poema//processo de Wlademir Dias-Pino: entre escritura e visualidade. Poiésis, Niterói, v.20, n.33, p.355-374, jan./jun. 2019.doi: dx.doi.org/10.22409/poiesis.2033.355-374

Neologismo criado por Rogério Duarte para designar a ação homônima realizada por Hélio Oiticica, e concebida por ambos, no evento Arte no Aterro: um mês de arte pública, organizado por Frederico Morais entre julho e agosto de 1968. Apocalipopótese foi realizada em 4 de agosto do referido ano e consistia em uma espécie de acontecimento ambiental em que o processo e a experiência grupal coletiva eram a tônica. De acordo com o artista, a ideia de Apocalipopótese teve sua origem nos Ovos de Lygia Pape e na Cama-bólide proposta por ele em 1967. Ao refletir sobre a interferência do imponderável na experiência proposta, isto é, sobre a desconhecida ou não-domesticável participação coletiva, Oiticica relata que a Passeata dos Cem Mil, manifestação popular contra a ditadura militar realizada em junho daquele ano no Rio de Janeiro, teria sido uma possível introdução [ou inspiração] para Apocalipopótese. O artista defendia, com a realização da ação, a "não-imposição de uma 'ideia estética grupal', mas a experiência do grupo aberto num contato coletivo direto". Apocalipopótese desvendou-me o futuro: a experiência Whitechapel, mais do que síntese de toda a minha obra, ou a soma de ideias, decorre de Apocalipopótese: a criação de liberdade no espaço dentro-determinado, intencionalmente "naturalista" aberta como o campo natural para todas as descobertas: o comportamento que se recria, que nasce: na Apocalipopótese as estruturas tornavam-se gerais, dadas abertas ao comportamento coletivo-casual-momentâneo [...]". In OITICICA. Apocalipopótese. Texto-relato escrito em 18 de agosto de 1968 e apresentado na Universidade de Sussex, Brighton. entre 22-29 out 1969. Disponível em Programa Hélio Oiticica - Itaú Cultural.

Passista é a pessoa que faz a marcação do passo no carnaval, especialmente, no contexto das escolas de samba. É uma espécie de bailarino ou bailarina do samba, que através de malabarismos com o corpo e acrobacias com o pandeiro mantém o clima de alegria e seduz os espectadores, enquanto a escola de samba se apresenta na avenida. Difere do sambista, que é aquele que além de sambar, ama e vive a cultura do samba, mas de uma maneira mais ampla.

"Procissão" é um baião, gênero de música e dança popular da região nordeste do Brasil, composto por Gilberto Gil em 1968. O nordeste brasileiro é conhecido por enfrentar problemas crônicos de seca. Em sua letra, Gil narra uma procissão em que demanda a Jesus Cristo a resolução deste problema. No entanto, como o próprio compositor comenta no livro Todas as letras, Procissão "é uma canção bem ao gosto do CPC, o Centro Popular de Cultura, solidária a uma interpretação marxista da religião, vista como ópio do povo e fator de alienação da realidade, segundo o materialismo dialético." In GIL, Gilberto. Todas as letras. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. O CPC, ou Centro Popular de Cultura, foi criado em 1962 pela União Nacional dos Estudantes (UNE) em associação com alguns intelectuais atuantes na época, dentre eles Oduvaldo Viana Filho, Leon Hirszman e Carlos Estevam Martins. Tinha como objetivo combater o hermetismo da arte em favor de uma arte popular revolucionária, colocando a cultura no centro da política, e como interesse atuar junto às associações universitárias, camponesas e operárias. Na prática, através do UNE-Volantes, organizou e produziu diferentes ações, formações e manifestações culturais na forma de peças de teatro; cinema, como é o caso do filme Cinco vezes favela; shows; livros e revistas, como os Cadernos do Povo Brasileiro; além de cursos variados de cinema, artes visuais, filosofia. Uma das principais inspirações do CPC foi o Movimento de Cultura Popular (MCP), criado em 1960 na cidade do Recife, que consistiu em um movimento de alfabetização de adultos e educação de base fundado por estudantes universitários, artistas e educadores, dentre eles Paulo Freire, em ação conjunta com a prefeitura da capital pernambucana. Tinha como objetivo formar uma consciência política e social dos trabalhadores a fim de prepará-los para uma efetiva participação na vida do país. O estado de Pernambuco era naquele momento o epicentro da luta pela reforma agrária com as Ligas Camponesas e o que viria a germinar mais tarde como a Teologia da Libertação. O MCP foi uma das primeiras entidades a utilizar o Método Paulo Freire de Alfabetização no país. Após o golpe que derrubou o presidente João Goulart em março de 1964, tanto o MPC, em Recife, foi extinto como a sede da UNE, no Rio de Janeiro, foi incendiada e todas as unidades do CPC foram fechadas. [Nota Mônica Hoff]

Apocalipopótese no Aterro: arte de vanguarda levada ao povo

Diário de Notícias. Rio de Janeiro, 26 de julho, 1968. Segundo Caderno.

Mais uma vez, como tem acontecido desde o dia 6 do corrente mês, aos sábados e domingos, a arte de vanguarda será levada ao público, no Aterro. Neste fim de semana, junto do Pavilhão Japonês, e encerrando a programação Um Mês de Arte Pública, promovido pelo DN [Diário de Noticias], o público carioca poderá assistir e participar de várias manifestações de arte, que serão levadas a efeito pelos mais significativos artistas brasileiros já conhecidos por suas propostas ousadas, abertas, revolucionárias. De amanhã, às 9 horas, até domingo, às 19 horas, poetas, artistas plásticos e 14 dos melhores sambistas do Rio vão apresentar suas obras e sua arte, ou as manifestarem, em conjunto ou isoladamente, em manifestações que incluem arte plástica, poesia, samba, dança, música concreta e eletrônica, moda e cinema. E o público será convidado não só a ver poemas sem palavras, mas também a fazê-los ou cocriá-los com seus autores, abrir urnas onde encontrará desenhos e perguntas, vestir capas parangolés ou reviver sua própria criação rompendo — após entrar — em cubos/ovos. Eis alguns dos artistas que lá estarão: Hélio Oiticica, Lygia Pape, Wlademir Pias-Pino, Pedro Geraldo Escosteguy, Antônio Manuel, Nininha da Mangueira, Bidu da Portela, o Narcisa do Salgueiro. E após ver tudo isso e também a exposição de Jackson Ribeiro, que lá se encontra montada desde o dia 6, assistir aulas (dadas a crianças e adultos) poderá participar de dois debates, um no sábado e outro no domingo, este com início previsto para as 19 horas e que deverá contar com a presença dos críticos de arte militantes e dos artistas que integraram a promoção.

Jogos da paz

Já no sábado, a partir das 9 horas, o público poderá participar dos Jogos da paz, um conjunto de três obras feito por uma equipe constituída de Pedro Geraldo Escosteguy, Jorge Sirito e Paulo Martins, estes dois últimos, autores de um filme sobre “arte pública”. O primeiro vem participando de várias exposições de vanguarda, de bienais de Salão Nacional e tem suas obras divulgadas em revistas especializadas no estrangeiro. As obras denominam-se individualmente: Tiro ao alvo, Roleta e Flor da paz. O objetivo da equipe com esta obra coletiva é a “discussão em grupo a respeito dos canais de comunicação no nível popular, o encontro de opções e o exercício das possibilidades lúdicas do homem e da obra de arte”. Entendem ainda seus idealizadores que entre as perspectivas da obra estão a “movimentação do interesse popular mediante a participação ativa, a realização de arte pública no sentido do consumo e a possibilidade de reprodução ou estudo de variantes”. Todas as três obras exigem a participação do público que atirará em alvos que resultarão no aparecimento de letras e figuras, ou deslocará figuras geométricas ou não, mas sempre imantadas presas a uma superfície.

Arte-física

À tarde, a partir das 14h30m, terão vez os poetas, que realizarão diante do público ou com sua ajuda poemas com palavras ou sem palavras, mas contando para o seu desenvolvimento ou desabrochar — o processo — com a intervenção do leitor/espectador, que assim se transforma num cocriador. Em nossa coluna de hoje estamos informando detalhadamente para os leitores a exposição do grupo e o que pensam seus integrantes e criadores do movimento, o qual não separa mais, segundo os cânones convencionais, uma arte de outra arte, a poesia das artes plásticas. Wlademir Dias-Pino, também pintor e escultor (e como tal foi indicado para integrar a representação brasileira à I Bienal de Arte Construtiva de Nuremberg) e um dos líderes do movimento, fala de arte-física ao explicar um poema de sua autoria: “Quero fazer uma arte móvel, mas, principalmente, para o músculo do homem. Uma arte que tenha rigor, mas de uma geometria do acrobático. O desencadeamento do lúdico, mas obedecendo uma ordem biológica. Uma expressão corporal, mas sem representação. Assim é que ao correr dentro do labirinto branco, o homem se sacode interiormente (já independente da ‘obra de arte’), com os músculos em sintonia com a respiração. Uma arte olfativa, mas, principalmente, respiratória. Labirinto branco é um poema com a brancura do papel e com as transparências de suas perfurações. É um outro nível de leitura, um outro ato de virar das páginas”.

Um dos jovens integrantes do grupo, Carlos Dias, apresentará uma “caixa de fumaça”, baseada no antigo grafismo esfumaçado, obra para a qual “é válida a opção de cada um ao soprar nas caixas e observar sua dispersão”.

Apocalipopótese

O que é e o que significa apocalipopótese? A reunião de duas palavras: apocalipse e apoteose? Ou a hipótese apoteótica do apocalipse? Ou ainda o apocalipse apoteótico da hipótese? Pode ser tudo isso. Ou nada. “Nada — responde Hélio Oiticica, seu idealizador — ainda não significa nada como de resto qualquer outra palavra. Qual a utilidade de uma coisa que ainda não existe? A utilidade é a negação da liberdade e a liberdade é a utilidade da negação”. Jogo de palavras? É possível, como o dada, nos idos da Primeira Guerra Mundial, na neutra Zurique, fermento de inconformismo e de rebelião cultural. Descoberta ao acaso num dicionário folheado no Cabaret Voltaire, a palavra dada também não significava nada em particular, mas muito no geral. Foi um grito de guerra que retumbou na Europa e nos Estados Unidos, onde até hoje se houve seu eco, disfarçado em pop dada, pop, ié-ié-ié são gritos de protesto, uns mais fortes outros menos, conforme aqueles que gritam, conforme os locais e as épocas. Mas é sempre uma sensação de mal-estar, de um certo asco, um sintoma de inconformismo, de insatisfação. E não apenas ou necessariamente política. Inconformismo artístico, vontade de abrir, renovar, pesquisar. E como tudo que é renovação e abertura, uma certa ingenuidade e muita alegria. Sobretudo, bom humor. Pois como diz Hélio Oiticica, “o mau humor é um péssimo lubrificante”. Por isso mesmo venham todos, com humor, ao Parque do Flamengo, junto do Pavilhão Japonês, a partir das 16 horas.

Samba, capas e ovos

Para quê? Para ver os passistas-ritmistas da Portela (Vinícius, Bidu, Maquário e a grande passista Nega Pelé), da Mangueira (Santa Teresa, Bulau, Nilza, Manga, Mosquito e a grande sambista Nininha, que será homenageada por Hélio Oiticica, também passista da escola), da Vila Isabel (Mirim), do Salgueiro (Damásio, César e a grande passista Narcisa) que vão sambar com as novas capas de Hélio Oiticica denominadas Guevaluta, Guevarcália, Nirvana, Xoxôba e Caetelesvelásia. E sambarão com capas feitas em conjunto por Oiticica e Rogério Duarte, as capas-parangolé Urnamorna e Capa-poema. Lygia Pape, por sua vez, homenageará Hélio Oiticica com a capa Capélio (“participação apocalipopótica direta, fazendo uso do sem-ruído”). O desenhista Antonio Manuel vai apresentar dez Urnas quentes, espécie de caixas surpresas contendo perguntas e desenhos que serão levados por todos aqueles que conseguirem abri-las. Rogério Duarte vai apresentar uma cabine Galpão da ciência, enquanto Sami Mattar mostrará suas roupas que serão vestidas por Rose, Tineca e Anísia e vistas pelo público à luz do sol ou sob “luz negra” (ultravioleta).

Os sambistas desfilarão entre as esculturas de Jackson Ribeiro, cantando “Procissão”, de Gilberto Gil, enquanto Jaguar comparecerá com sua banda de Ipanema e Sérgio Bernardes deflagrará uma enorme bandeira da América do Sul.

Mas haverá ainda outro destaque: Lygia Pape com a apresentação de O ovo, sementes-cubos sobre as quais falamos em reportagem ao lado. E sobre Hélio Oiticica falaremos ainda nesta mesma página, no domingo.